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Revista Científica Digital da SBEM-SP


ETA: teprotumumabe, hipotireoidismo e a relação entre glúten e tireoidite de Hashimoto

Por Laura Sterian Ward , em TIREOIDE , dia 20 de setembro de 2023 Tags:, , , , , ,

O 45º encontro da Associação Europeia de Tireoide (ETA) aconteceu de 9 a 12 de setembro, em Milão, Itália. A Dra. Laura Ward (Unicamp) foi uma das especialistas da SBEM-SP que compareceram ao evento e traz abaixo um pouco do que aconteceu por lá. Confira!

Novas perspectivas de tratamento para orbitopatia de Graves

Com o surgimento de novas perspectivas terapêuticas para tratar a doença ocular de Graves, foi ressaltada durante o ETA a importância do conhecimento fisiopatogênico da doença, que serviu de base para o aparecimento de novas drogas.

Também foram apresentados alguns resultados de uma nova droga que inibe a reciclagem de IgG e uma abordagem nova em relação ao tratamento da orbitopatia de Graves, que parece ter resultados bastante interessantes em diminuir todos os sintomas inflamatórios relacionados à doença ocular e melhorar bastante a qualidade de vida e os vários aspectos da manifestação dessa enfermidade. Também foram demonstrados alguns efeitos colaterais, principalmente diminuição de albumina, ainda com pouca explicação, porém aparentemente contornável.

O teprotumumabe já foi aprovado nos Estados Unidos e acaba de ser aprovado no Brasil; tem efeitos não apenas na parte inflamatória da doença, como também na proptose, que é um dos aspectos mais terríveis da doença de Graves, e vem sendo utilizado com bastante sucesso. É uma droga muito importante que atua no fator de crescimento de insulina, o IGF, em conjunto com o receptor de TSH na etiopatogenia da doença.

E como acontece com todo novo medicamento, começam a ser sinalizados os efeitos colaterais: diminuição de audição, hiperglicemia, e ainda vamos ver o que mais vai aparecer pela frente, à medida que essa droga for sendo cada vez mais usada.

Hipotireoidismo

O diagnóstico de hipotireoidismo foi amplamente discutido, principalmente em crianças, ressaltando a importância de não se tratar pacientes que tenham elevação fisiológica do TSH durante a infância ou em determinados períodos, como a puberdade. Sabemos que o TSH também se altera em outras situações fisiológicas, como durante a gestação. O diagnóstico é importante para evitar tratamentos inadequados.

No indivíduo idoso, o diagnóstico de hipotireoidismo também é mais desafiador, porém comprova aquilo que já mostramos em nosso recente statement sobre o tratamento de hipotireoidismo do Departamento de Tireoide da SBEM: indivíduos idosos tendem a ter níveis de TSH mais elevados, que são aparentemente ligados à longevidade e ao melhor prognóstico. Não há comprovação de efeito benéfico algum em se tratar com levotiroxina esses pacientes com idade avançada. Tanto que a recomendação é de não se tratar níveis de TSH no indivíduo idoso, particularmente no muito idoso ou no idoso frágil, quando esses níveis de TSH não são o diagnóstico de hipotireoidismo clínico.

Ainda no tópico do hipotireoidismo, foi abordado o uso abusivo da terapêutica com levotiroxina. Isso porque já existem dados muito sólidos mostrando que ela vem sendo inadequadamente prescrita (e com frequência relativamente elevada) para pacientes que, na verdade, não precisariam utilizá-la, uma vez que seu TSH estava apenas temporariamente mais alto. Grande número de usuários de levotiroxina simplesmente volta a ter níveis de TSH normais quando se retira a droga, mostrando que ela não é necessária em alguns casos.

Dieta sem glúten e tireoidite de Hashimoto

Por fim, entre as novidades, chamou-me atenção particularmente um trabalho oral de um grupo italiano sobre o efeito da dieta sem glúten na tireoidite autoimune, em pacientes que não tinham diagnóstico prévio de doença celíaca. O estudo mostrou que os pacientes realmente melhoravam quando se tirava o glúten da dieta, e isso parece ter um efeito positivo nos portadores de tireoidite de Hashimoto.

Laura Sterian Ward – Clique para ver o CV Lattes

imagem: iStock

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