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Revista Científica Digital da SBEM-SP


Pacientes com diabetes e COVID-19: melhor gerenciamento de glicose no sangue

Por Marcio Krakauer , em DIABETES , dia 12 de junho de 2020 Tags:, , , , , , , ,

No artigo Diabetes Patients With COVID-19 Need Better Blood Glucose Management in Wuhan, China, os autores, que são de Wuhan, epicentro da pandemia de covid-19, escreveram uma carta à revista publicada em 24 de março de 2020. Na carta, discutem o fato de os diabéticos serem pacientes de alto risco de evoluir de forma grave nessa infecção viral. Estudaram retrospectivamente um grupo pequeno de 29 pacientes com diabetes tipo 2, média de 69 anos de idade e seis anos de duração do diabetes (DM). As metas de glicemia na internação seguiram as recomendações da American Diabetes Association (ADA): 140-180 mg/dl.

O que observaram? > 56,6% das glicemias dentro do hospital estavam fora das metas, a maioria (64,5%) no período pós-prandial. 69% dos pacientes estavam fora das metas e curiosamente apenas 10,3% apresentaram pelo menos 1 episódio de hipoglicemia (< 70 mg/dl).

Conforme já sabido, DM e hiperglicemia podem levar a um risco maior de gravidade e mortalidade secundárias a infecções, e, com isso, inferiram algumas razões para esse mau controle glicêmico especialmente das glicemias pós-prandiais:

1) Dificuldade da presença do especialista endocrinologista nos centros de tratamento;

2) Dificuldade com a dieta e atividades físicas desses pacientes;

3) Ansiedade, que piora a glicemia;

4) Pâncreas como potencial tecido-alvo de infecções virais, levando a desordens metabólicas.

Terminam o artigo com sugestões baseadas nestas análises de pacientes com DM 2 e covid-19:

1) Telemedicina com especialistas em Endocrinologia é fundamental e urgente;

2) Coordenação com a equipe de nutrição dos hospitais;

3) Avaliação da questão emocional e de atividades físicas “indoor” dos pacientes;

4) Estímulo à pesquisa e estudos científicos sobre fisiopatologia.

A telemedicina na comunicação entre médicos é emergente, pois pode ajudar muito as equipes clínicas que estão na linha de frente desses pacientes.”

Observações pessoais

Esse artigo foi escrito no fim de março; de lá para cá, mais experiências e artigos foram publicados. Novas modalidades terapêuticas foram incorporadas, incluindo a corticoterapia em muitos desses pacientes, o que agrava, sem dúvida, o controle glicêmico. Também gostaria de lembrar da obesidade nesses pacientes com DM 2, que já corresponde à inflamação crônica, e a infecção grave pela covid-19 seria uma tempestade inflamatória em cima de um paciente já inflamado. Lembrar sempre das complicações crônicas.

Diabetes pode estar constantemente associado a complicações microvasculares (retinopatia, nefropatia, neuropatia periférica e autonômica) e macrovasculares (angina, infarto, AVC etc.), sendo esses pacientes polimedicados, elevando sua complexidade. Quanto à questão nutricional levantada no artigo, creio que os hospitais já deveriam ter protocolos glicêmicos ou pelo menos protocolos de dietas para DM, e exercícios em indivíduos internados é um enorme desafio, ainda mais nestes da covid-19, que costumam ter dispneia e cansaço importantes.

A visão integral com olhar na ansiedade, depressão e comunicação familiar é de extrema importância na vida de qualquer pessoa em tais condições. Penso que a telemedicina na comunicação entre médicos é emergente, pois pode ajudar muito as equipes clínicas que estão na linha de frente desses pacientes. Os gestores devem ter esse olhar sabendo da pior evolução e até do prolongamento dos dias de internação relacionados à hiperglicemia hospitalar (diabética ou não).

Fecho meus comentários com uma mensagem de otimismo aos colegas, que todos tenham força para cuidar dos nossos pacientes presencialmente ou ajudando colegas a distância, que orientem a monitorização glicêmica frequente, que é a chave do melhor controle glicêmico, e deem atenção à glicemia intra-hospitalar, principalmente a pós-prandial, como bem escrito no artigo. Saúde e imunidade a todos!

Dr. Marcio Krakauer  – clique para visualizar o CV Lattes.

imagem: iStock


              

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