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Revista Científica Digital da SBEM-SP


Tecido adiposo marrom ligado à saúde metabólica

Por Bruno Halpern , em OBESIDADE , dia 28 de fevereiro de 2021 Tags:, , , , , ,

Não faz muito mais que uma década que a comunidade científica foi apresentada à ideia de que humanos adultos tenham tecido adiposo marrom (TAM), uma gordura com função termogênica, isto é, que transforma energia em forma de calor. Em 2009, três artigos no NEJM demonstraram, com base em exames de PET-FDG, que esse tecido — que se acreditava presente principalmente em animais hibernantes e em humanos recém-nascidos — estava realmente presente em ao menos parte da população adulta, principalmente após exposição ao frio.

Um tecido termogênico poderia ser um fator de proteção contra doenças metabólicas, como obesidade e diabetes tipo 2 (pois o tecido ativo utiliza glicose e ácidos graxos para produzir calor), e assim sua menor presença poderia ser uma causa de ganho de peso. Por outro lado, substâncias que ativam esse tecido marrom também seriam possibilidades terapêuticas; devido a isso, o número de publicações sobre o assunto cresceu muito. Mas, infelizmente, ainda temos muito mais perguntas que respostas e, embora muitas substâncias já tenham se demonstrado capazes de ativar esse tecido, estamos longe de uma terapêutica voltada a ele.

Num recente artigo publicado na revista Nature Communications, Becher e demais autores trazem dados observacionais geradores de hipóteses: a maior presença de tecido adiposo marrom em exames de PET (análise de mais de 130 mil imagens) esteve relacionada à maior saúde metabólica. Como exemplo, em pessoas com TAM+, a prevalência de DM2 foi 4,5%, contra 9,5% em quem tinha TAM-. Outras comorbidades, como dislipidemia, doença cardiovascular e hipertensão, também foram menos frequentes em quem tinha TAM visível. No estudo, o efeito apareceu ainda mais pronunciado em pacientes com obesidade: aqueles com TAM apresentavam menos comorbidades. Nesse sentido, é importante notar que já há muitas evidências de que pessoas com obesidade tendem a ter menos tecido adiposo marrom.

Como qualquer estudo observacional, ele apresenta uma correlação e é difícil falar em causa e efeito. Pode ser que o TAM proteja contra doenças crônicas, mas também é possível que seja uma “vítima” da obesidade e da deposição ectópica de gordura. Assim, conforme o ganho de peso progride, é possível imaginar que os depósitos de gordura marrom se tornem gordura branca. Esse processo pode ser uma via de mão dupla ou um círculo vicioso, em que a redução do TAM pelo ganho de peso reduza o potencial termogênico e facilite aumentos ainda maiores do peso corporal. São apenas hipóteses, mas, de toda forma, o estudo contribui para a ideia de que o tecido adiposo marrom deva ser levado em consideração ao se avaliar a relação da obesidade com doenças crônicas, seja como um fator protetor, seja como mais uma vítima entre tantos outros órgãos, incluindo fígado, pâncreas e coração.

Bruno Halpern – clique para ver o CV Lattes


Referência:

https://www.nature.com/articles/s41591-020-1126-7

imagem: iStock

 

 

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