Na prática: quando suspeitar da acromegalia?
Algum tempo atrás, eu estava no corredor de um ambulatório de especialidades médicas e observei que um colega médico, não endocrinologista, estava atendendo uma paciente que apresentava características faciais típicas da acromegalia. Perguntei se aquela paciente tinha acromegalia, e ele fez uma expressão do tipo “o que é acromegalia?”.
Acromegalia é uma doença crônica decorrente do excesso do hormônio de crescimento (GH), sendo na maioria das vezes causada por um adenoma hipofisário secretor de GH. Em função do caráter insidioso dessa neoplasia e da falta de conhecimento por parte de alguns profissionais de saúde acerca das características da doença, o diagnóstico é frequentemente realizado cerca de oito a 10 anos após o aparecimento dos primeiros sinais e sintomas. O diagnóstico mais precoce poderia aumentar a taxa de cura dos indivíduos afetados e evitar o surgimento das complicações cardiovasculares, respiratórias e neoplásicas, que são os principais responsáveis pelo aumento da mortalidade nesse grupo de pacientes.
Os sinais e sintomas que mais caracterizam a acromegalia são as alterações fisionômicas:
- Proeminência frontal
- Alargamento da base do nariz
- Aumento dos lábios
- Separação dos dentes
- Prognatismo
- Aumento dos arcos zigomáticos
- Aumento das extremidades, representado pela troca por um número maior do sapato e a aliança não caber mais no dedo
Contudo, como esses sinais e sintomas são de progressão gradual e lenta, a maioria dos pacientes não percebe tais modificações e acaba procurando algum serviço de saúde por um desses sintomas isolados.
Principais complicações que fazem os pacientes procurarem um médico especialista
Devido aos níveis elevados do GH e do IGF-1, os pacientes acometidos podem apresentar, além das alterações fisionômicas, várias complicações, que, dependendo do tempo de evolução da doença, podem ser irreversíveis mesmo com o controle da acromegalia. São elas:
- Artrite
- Artrose
- Parestesias
- Síndrome do túnel do carpo
- Perda do campo visual (pela compressão do tumor ao quiasma óptico)
- Hipertensão arterial
- Diabete mellitus
- Alteração da voz
- Apneia do sono
- Irregularidade menstrual
- Amenorreia
A paciente sobre quem comentei no início deste texto se queixava de dores articulares difusas de forte intensidade por todo o corpo havia mais de oito anos. Quando questionada se não percebeu as alterações faciais ao longo do tempo, ela disse que sim, mas achava que era do próprio envelhecimento.
Todos os pacientes com tais alterações devem ser rastreados para acromegalia? Uma sugestão é, junto com a observação clínica, perguntar ao paciente:
- Trocou o número do sapato por um maior?
- Você ou alguns amigos/parentes têm observado que a fisionomia do seu rosto está alterando?
Por último, compare uma foto bem antiga do indivíduo com o rosto atual e verifique se, no decorrer dos anos, houve alterações fisionômicas sugestivas da acromegalia.
Se a suspeita for forte, solicite a dosagem do IGF-1 — se estiver normal para idade e sexo, esse diagnóstico é afastado na maioria dos casos. Caso venha aumentado, o paciente deve ser encaminhado a um centro de referência no tratamento da acromegalia para confirmação do diagnóstico e tratamento.
Vania dos Santos Nunes Nogueira – clique aqui para ver o CV Lattes
Imagem: iStock
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