Atualização 2020 em diabetes gestacional e foco na preconcepção
Em janeiro deste ano, a Associação Americana de Diabetes publicou a atualização dos Padrões de Cuidados Médicos no Diabetes: Manejo do Diabetes na Gravidez (Management of Diabetes in Pregnancy: Standards of Medical Care in Diabetes — 2020). [1] Sabemos que as diretrizes de atualização são elaboradas com base nas evidências disponíveis e mudam constantemente e, por isso, vale ressaltar alguns pontos das novas recomendações na comparação com os anos anteriores. Neste artigo em especial, vou comentar as mudanças com relação à preconcepção.
O primeiro ponto que ressalto é sobre a meta de A1C na preconcepção. Observa-se que, desde 2015, o aconselhamento pré-gestacional vem ganhando importância nas diretrizes, com recomendação de controle rígido da glicemia (alvo de A1C < 7%, se puder ser alcançado sem hipoglicemia) [2]. No entanto, ao longo dos anos e notadamente desde as recomendações de 2019, [3] há o destaque para que, a partir da puberdade, o aconselhamento sobre a preconcepção seja incorporado ao tratamento de rotina do diabetes para todas as jovens com potencial para engravidar. Além dessa importante recomendação, outro ponto fundamental de mudança foi a redução no alvo do controle glicêmico para o mais próximo possível do normal. Esse alvo, atingido com segurança, deve ser de A1C < 6,5%, a fim de reduzir o risco de anomalias congênitas [1].
Ainda em relação aos cuidados com preconcepção, desde 2016 [4] o planejamento familiar é citado nas recomendações. Em 2020, é vista uma abordagem mais específica [1]: ao orienta-se contracepção eficaz reversível de longa duração até que o regime de tratamento da mulher e a A1C sejam otimizados para a gravidez. [1] Quando falamos em contracepção reversível de longa duração, podemos citar os dispositivos intrauterinos (DIU) e o implante subdérmico.[5] Essa mudança é importante, inclusive quando comparada ao ano 2019, em que a recomendação era considerar a possibilidade de uso de anticoncepcionais eficazes até que a mulher estivesse preparada e pronta para engravidar. [3].
Outro ganho nas recomendações de 2020 foi o checklist do cuidado na preconcepção. Pode-se citar pontos como: avaliação nutricional para sobrepeso/obesidade ou baixo peso, orientações para planejamento de refeições, correção de deficiências nutricionais dietéticas, técnica segura de preparação de alimentos e redução da ingestão de cafeína. Há também uma seção do checklist dedicada às recomendações de estilo de vida para exercícios moderados regulares, sono adequado, autogerenciamento do diabetes e para evitar hipertermia (como em banheiras de hidromassagem).
O preparo pré-concepcional é fundamental para o desenvolvimento de uma gestação saudável e inclui o planejamento da gravidez. Em nosso meio, segundo artigo publicado por Borges e colaboradoras [6], verificou-se uma taxa de 47% de mulheres com gravidez planejada. Ou seja, mais da metade das mulheres avaliadas nesse estudo, através de questionário, não se enquadrava nos parâmetros de planejamento. Se refletirmos ao estender esses dados para a população de mulheres diabéticas em idade fértil, certamente necessitaremos mais esforços para um melhor controle glicêmico.
Andressa Heimbecher – clique para visualizar o CV Lattes
Referências
2. 12. Management of Diabetes in Pregnancy. Diabetes Care, 2015. 38(Supplement_1): p. S77-S79
4. 12. Management of Diabetes in Pregnancy. Diabetes Care, 2016. 39(Supplement 1): p. S94-S98
imagem: iStock
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