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Revista Científica Digital da SBEM-SP


Prescrição de andrógenos na menopausa: sim ou não?

Por Dolores Pardini , em ENDOCRINOLOGIA FEMININA , dia 28 de fevereiro de 2022 Tags:, , ,

Apesar da crença de longa data de que o déficit androgênico esteja envolvido nas disfunções sexuais das mulheres, até o momento não há confirmação na literatura a respeito disso, visto que não há ensaios precisos para medir os níveis de metabólitos de andrógenos e refletir a produção endócrina  com precisão na pós-menopausa. A suplementação de DHEA (dehidroepiandrosterona) tem efeitos aparentes no humor, sendo controversa para melhora do desejo sexual e, apesar de ser um androgênio fraco, tem potencial de conversão em testosterona.

O Departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia (DEFA) da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) publicou um consenso em 2019 resumindo as evidências atuais a respeito da reposição de testosterona1. Posteriormente, diversas sociedades médicas internacionais se uniram para publicar um consenso global sobre o tema2, chegando ambos os consensos à conclusão de que a única evidência para administração de testosterona na mulher é a disfunção sexual com desejo hipoativo (DSDH). Esse distúrbio, cujo diagnóstico é essencialmente clínico, devendo-se evitar dosagem de andrógenos para tal, é definido como deficiência ou ausência de desejo e/ou fantasias sexuais, gerando sofrimento na mulher3.

Não existe, até o momento, nenhuma apresentação de testosterona disponível para reposição feminina no Brasil, exceto nas formas de gel ou de cremes manipulados. Entretanto temos a testosterona vendida nas formas de gel e injetável para homens, erroneamente utilizada por algumas mulheres. Contraindicamos o uso de ambas as formas pelo sexo feminino, pois se destinam para uso exclusivo em homens devido às altas concentrações de testosterona nesses produtos por serem destinados ao sexo masculino, e sua utilização em mulheres atingiria níveis suprafisiológicos, acarretando vários efeitos colaterais. Os efeitos adversos mais frequentemente observados são acne, hirsutismo e queda de cabelo, além do agravamento de patologias preexistentes no metabolismo de glicose e lípides com desencadeamento de doenças cardiovasculares.

Recentemente, devido ao uso indiscriminado de implantes hormonais denominados pela imprensa leiga como “chip da beleza”, contendo testosterona e derivados como a gestrinona, a SBEM, através do Departamento de Endocrinologia Feminina, publicou um posicionamento sobre o tema e aprovado pela Anvisa. Em resumo, o implante não tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para sua utilização, principalmente com finalidade estética. Segue abaixo o link para leitura na íntegra do posicionamento, bem como a resposta da Anvisa.

Em conclusão, não recomendamos a reposição de testosterona ou derivados na mulher com finalidade estética ou aumento da libido, exceto nas portadoras de disfunção sexual com desejo hipoativo — nessa circunstância, é crucial o monitoramento da testosterona sérica para acompanhamento e segurança da paciente, sendo que seus níveis fisiológicos (70 a 90 ng/dL) jamais devem ser ultrapassados.

Dolores Pardini – clique para ver o CV Lattes

Referências

1. Weiss RV, Hohl A, Athayde A et al. Testosterone therapy for women with low sexual desire: a position statement from the Brazilian Society of Endocrinology and Metabolism. Arch Endocrinol Metab. 2019; 63:190¬8.

2. Davis SR, Baber R, Panay N et al. Global Consensus Position Statement on the use of testosterone therapy for women. J Clin Endocrinol Metab. 2019; 104:4660¬6.

3. Goldstein I, Kim NN, Clayton AH et al. Hypoactive sexual desire disorder: International Society for the study of women’s sexual health (ISSWSH) expert consensus panel review. Mayo Clin Proc. 2017; 92:114¬28.

imagem: iStock

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